Na altura não existia grandes
conhecimentos ou empatia por quem tivesse psoríase ou qualquer outra condição
na pele. Eu não conhecia ninguém com uma pele igual à minha e isso tornou-me cada vez mais introvertida. Não enfrentei aqueles que me destabilizavam
e me gozavam todos os dias. Não falei com ninguém acerca do que se passava na
escola, deixei tudo acumular e só, após alguns anos, me apercebi que era isso
que fazia com que a minha psoríase não melhorasse. Era o facto de estar a
guardar todas as más memórias e todas as maldades, em vez de desabafar.
Todos os dias, sem exceção, o
mesmo grupo de rapazes, no intervalo entre aulas, andavam atrás de mim a dizer
“Sofia, és tão feia”; “pareces um extraterrestre”; “a tua mãe devia ter
abortado”; entre outras coisas que ainda estão gravadas na minha mente.
Cresci sentindo uma vontade
horrível de agradar para não ser rejeitada, muitas vezes me esquecendo que
tinha uma voz e vontade própria. Hoje em dia, já não sou tanto assim. Deixei de
ter vergonha de me impor e dar a minha opinião. Parei de me preocupar tanto com
o que os outros vão pensar se estiver de mau humor. Descobri que também tenho
direitos. Não nasci para ser escrava da minha pele e muito menos de pessoas
ignorantes.
Apesar de ser uma mulher de bem
com a vida, no geral, ainda existe aquela vozinha dentro da minha cabeça que me
diz “és feia” sempre que alguém me elogia; que mexe comigo sempre que algo não
corre bem e me faz pensar “não és suficientemente boa”. Essas vozes ainda se
repercutem e, no passado, fizeram com que aceitasse menos do que merecia.
Nos tempos de escola, não
procurei ajuda; nunca contei aos meus pais ou família, pois tinha vergonha.
Achava que era tarde demais para revelar que o meu sorriso não era sincero,
apenas um disfarce; apenas uma defesa que construí para não me magoar mais.
Construí um muro tão alto que ainda, hoje em dia, é difícil alguém derrubá-lo.
Imagem retirada de Pinterest
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