domingo, 17 de abril de 2016

#6 - Tatuagens

Existem sempre muitas dúvidas se podemos ou não ter tatuagens quando temos psoríase. Eu adoro tatuagens e tenho duas. Uma pequena no pulso e outra maior na perna.

Deduzo que a grande parte, se não todos, os dermatologistas não recomendam fazer uma tatuagem numa pele tão sensível. A verdade é que irrita a pele, causa traumas e sangra. Todos estes fatores são propensos ao surgimento de novas lesões psoriáticas. O mais importante é sempre falar com o vosso médico. Eu falei com o meu e ele explicou-me os riscos associados. Também considero crucial escolherem um sítio de confiança para realizarem a tatuagem e conversarem com a pessoa que vos vai tatuar. Expliquem a doença e vejam o que ele vos diz.
Outro conselho que posso dar é não tatuar em cima de pele com lesões. Evitem ao máximo, pois vai piorar a psoríase nessa área.

A tatuagem que tenho no pulso nunca me causou problemas, talvez por ser pequena. A da perna, é mais recente, tem cerca de 6 meses, e tenho notado o aparecimento de alguma psoríase. Não afeta a tatuagem, nem a faz desvanecer. Apenas é necessário ter mais cuidado e manter sempre a pele dessa zona, ainda mais bem, hidratada.  

As tatuagens fazem me sentir melhor. Fazem com que a atenção se disperse um bocadinho das minhas marcas e ajudam a minha autoestima.


Existem muitas tatuagens planeadas no meu futuro, portanto a psoríase que se aguente!!


quarta-feira, 13 de abril de 2016

#5 - Tratamentos

Convivo com a psoríase há cerca de 15 anos, sinto que já somos amigas próximas.
Em 15 anos fiz muitos tratamentos, uns convencionais, outros nem por isso. Quando estamos desesperados, tentamos de tudo.

Primeiro comecei com os tratamentos tópicos, pomadas e géis; todos os dias era um autêntico “pastar” de daivobet pelo corpo todo. Era pomada para o corpo, outra para o couro cabeludo; champôs que cheiravam muito mal e me deixavam com vontade de nunca mais tomar banho.
Cheguei a ir à Romilda, uma das experiências mais surreais da minha vida. Cheguei, sentei e a mulher que nunca tinha falado comigo, nem me visto alguma vez, disse exatamente tudo o que eu tinha. Não adiantou de muito, pois eu não sou a pessoa mais crente que existe e tratamentos naturais, não resulta comigo. Não consigo acreditar.

Tentei terapias holísticas, com pêndulos e sabe-se lá que mais. Não fiquei curada.

No ano passado, tive que realizar tratamento biológico, pois a minha psoríase tinha-se agravado imenso. Basicamente, tinha que tomar uns comprimidos, usados para tratar alguns tipos de cancro. Era uma espécie de quimioterapia. Foi a pior coisa pela qual passei. Senti imenso os efeitos secundários. Era necessário fazer análises todas as semanas. Estava constantemente com infeções e a tomar antibióticos. Era um cocktail de comprimidos que me estavam a deixar à beira da loucura. Resolvi parar e voltar às pomadas. A pele acabou por melhorar e eu sentia-me muito melhor.
Nestes 15 anos, ouvi algumas barbaridades, como a mais recente, vinda de uma colega de trabalho:
- O meu filho teve isso há uns anos atrás, tomou umas vitaminas e passou.

Só consegui respirar fundo. Existem alturas em que não temos vontade nenhuma de explicar que isto não passa com vitaminas. Isto não passa com um sabonete exfoliante. Isto não passa com um remédio caseiro, à base de urtigas, que a tua avó fazia.

Agora estou numa fase mais ou menos. Com a mudança de país, piorei um bocadinho, o que é normal. Ainda estou numa fase de estabilização e tinha a perfeita noção que a minha pele se ia ressentir, mas acredito que vá melhorar. A minha vida está a dar uma volta enorme e eu sei que a psoríase não vai mandar mais em mim. 

Imagem retirada de Pinterest


sexta-feira, 8 de abril de 2016

#4 - Relações

Quando um namorado me disse “que horror, isso pega?” com o ar mais enojado de sempre, fiquei ligeiramente traumatizada para a vida amorosa. Foi uma das situações em que me deixei ficar, pois achava que era o que eu realmente merecia.

A vida amorosa não é fácil quando se tem psoríase, pelo menos no meu caso.
Quando comecei a namorar, facilitava demais. Deixava que me pisassem e faziam o que lhes bem apetecia, pois, o meu medo de ser rejeitada ou abandonada era maior que a minha vontade própria.
Depois apercebi-me que eles não ficavam na minha vida, mesmo que eu só os tentasse agradar. Nunca me chateava, tinha sempre um sorriso e era demasiado permissiva. Mesmo assim não era suficiente. Então o muro que construí continuava a crescer, a ficar cada vez mais alto.

Foi necessário um grande desgosto amoroso para começar a viver novamente. Viajei sozinha pela primeira vez. Descobri que era capaz e que era corajosa. Aprendi a aceitar, um bocadinho mais, a minha pele. Olhei para um espelho, sem roupa e pela primeira vez na vida, não me senti envergonhada, nem culpada. Até senti um certo orgulho nas minhas marcas. Não as adoro, ainda não me sinto bonita, mas sei que estou no caminho certo. Só aos 29 anos é que percebi que nada está perdido; ainda vou a tempo de construir uma boa vida, sem mágoas.


O muro continua erguido. Sou desconfiada, não só nas relações, mas em todas as situações da vida. Não acredito que algo bom me aconteça ou que alguém seja gentil comigo, só porque sim. Acho sempre que é mentira quando me dizem que sou bonita, penso que estão apenas a tentar ser simpáticos ou que têm pena de mim. No fundo, ainda sou aquela menina assustada que tapava os braços no verão.

Imagem retirada de Pinterest

segunda-feira, 4 de abril de 2016

#3 - Algo que escondi durante demasiado tempo

Na altura não existia grandes conhecimentos ou empatia por quem tivesse psoríase ou qualquer outra condição na pele. Eu não conhecia ninguém com uma pele igual à minha e isso tornou-me cada vez mais introvertida. Não enfrentei aqueles que me destabilizavam e me gozavam todos os dias. Não falei com ninguém acerca do que se passava na escola, deixei tudo acumular e só, após alguns anos, me apercebi que era isso que fazia com que a minha psoríase não melhorasse. Era o facto de estar a guardar todas as más memórias e todas as maldades, em vez de desabafar.

Todos os dias, sem exceção, o mesmo grupo de rapazes, no intervalo entre aulas, andavam atrás de mim a dizer “Sofia, és tão feia”; “pareces um extraterrestre”; “a tua mãe devia ter abortado”; entre outras coisas que ainda estão gravadas na minha mente.

Cresci sentindo uma vontade horrível de agradar para não ser rejeitada, muitas vezes me esquecendo que tinha uma voz e vontade própria. Hoje em dia, já não sou tanto assim. Deixei de ter vergonha de me impor e dar a minha opinião. Parei de me preocupar tanto com o que os outros vão pensar se estiver de mau humor. Descobri que também tenho direitos. Não nasci para ser escrava da minha pele e muito menos de pessoas ignorantes.

Apesar de ser uma mulher de bem com a vida, no geral, ainda existe aquela vozinha dentro da minha cabeça que me diz “és feia” sempre que alguém me elogia; que mexe comigo sempre que algo não corre bem e me faz pensar “não és suficientemente boa”. Essas vozes ainda se repercutem e, no passado, fizeram com que aceitasse menos do que merecia.


Nos tempos de escola, não procurei ajuda; nunca contei aos meus pais ou família, pois tinha vergonha. Achava que era tarde demais para revelar que o meu sorriso não era sincero, apenas um disfarce; apenas uma defesa que construí para não me magoar mais. Construí um muro tão alto que ainda, hoje em dia, é difícil alguém derrubá-lo.

Imagem retirada de Pinterest

domingo, 3 de abril de 2016

#2 - O dia em que me apareceu a primeira “mancha”

Olhei para a barriga curiosa. O que seria aquilo? Uma alergia? Não tinha comichão, nem fazia grande impressão. Uma pequena mancha estranha. Não liguei muito. No dia seguinte, tinha outra mesmo ao lado, mas não magoava, nem me incomodava, continuei sem dar muita importância.

Ao fim de uma semana, tinha se alastrado por toda a barriga, costas e braços. Parecia uma autentica praga. Fiz aquilo que nunca se deve fazer. Em vez de ir logo ao médico, andei a seguir conselhos de pessoas bem-intencionadas, mas que não faziam ideia daquilo o que era. Andei a esfregar aloé vera e sabe-se lá que mais, mas nada resolvia. 

Passaram-se cerca de 15 dias e fui ao Google, pesquisar. Descrevi as minhas manchas e quando fui ao médico, já tinha quase a certeza que tinha psoríase.

Nunca tinha ouvido falar em semelhante doença. O nome era estranho, toda a doença era estranha. Li que não tinha cura, mas não acreditei logo. Pensei que fosse alguma mentira da internet.


Quando, finalmente, fui ao médico, ele confirmou logo que era psoríase. Nunca me esqueço das palavras seguintes “isto vai ficar contigo até ao dia em que morreres”. Deu-me vontade de chorar. Na altura nem percebia bem o que causava a psoríase ou que implicações poderia trazer para o futuro, apenas vitimizei-me por achar que ia ficar feia para o resto da minha vida. O problema foi esse: aos 14 anos e a sofrer de bullying na escola, a única coisa que me preocupava era o meu aspeto. Como é que ia enfrentar a escola com a pele assim? 

Imagem retirada de Pinterest

sexta-feira, 1 de abril de 2016

#1

Desde os 14 anos que tenho psoríase. Uma condição que apareceu inesperadamente, sem pedir licença e que tomou conta de grande parte da minha vida. Durante muitos anos, deixei que o estado da minha pele me definisse. Deixei me rebaixar por muitas pessoas por achar que não merecia melhor, devido ao meu aspecto.

A psoríase é matreira. Ela aparece quando te sentes mais em baixo. Não tem dó nem piedade, é como se o teu próprio corpo te estivesse a atacar por não estares bem. Se deixares, ela corrói-te o espírito e não sabes mais quem és. Apenas sabes que és uma pessoa com uma pele feia. O problema é que ela é muito mais que um pequeno problema de pele. É um estado inflamatório constante que te pode trazer consequências no futuro, ao nível de outros órgãos.

Infelizmente, sentiste na pele o preconceito e o julgamento, de pessoas ignorantes. Pessoas que não têm culpa de serem assim, mas que te fazem sentir mal contigo própria. Os miúdos na escola têm mais uma desculpa para te gozar, cresces e tens adultos a te perguntar se não tomas banho. Fazem-te pensar duas vezes antes de tomares qualquer decisão; por mais que negues, incomoda-te que alguém esteja a olhar para a tua pele. Incomoda-te quando te perguntam se te queimaste ou quando te mandam esfregar um sabonete que funcionou numa tia. Ou quando te respondem “pelo menos não é cancro”, “não mata”.

Mas um dia aprendes que não tens culpa. Não foi algo que escolheste ou que decidiste ter. Tens marcas no corpo que vão ficar para a vida. Tens que aceitar e acreditar que cada cicatriz te torna mais forte, faz de ti uma guerreira e não uma pessoa doente.
É fácil? Não. Tens dias em que te sentes uma merda e outro em que te sentes um super-herói. Não existe meio termo na psoríase. Leva-te ao extremo das emoções. Conheces a maldade que existe na humanidade, mas também muita gente boa pelo caminho. Tornas-te forte, mas frágil ao mesmo tempo. É assim a psoríase.

Imagem retirada de Pinterest